De tanto viver – para o Dilim , com amor
Sandra Andrade
Eu gostaria de viver muito,
Poder ver da minha janela,
A minha árvore – e mesmo depois
De tantos Janeiros, vê-la vestir-se
Das mesmas Estações
E enxergá-la como se fosse
sempre o seu primeiro Outono
Ou o seu primeiro inverno...
E de tanto viver,
Sentir-me parte de suas cascas,
Seiva e galhos renovados de ninhos e asas
Em cada Primavera!
E mesmo vivendo tanto,
Ver as águas das minhas nascentes
Como se fossem sempre as mesmas águas:
– Serenas, protegidas e constantes...
Queria viver tanto,
E mesmo assim,
Não acostumada ainda de tanto viver
Não deixar de sentir os sobressaltos
De todas as cheias de janeiro
Até as últimas águas de Março...
E de tanto viver
Perder a conta,
De quantas Luas cheias vimos juntos
E quantas marés
Subiram pelos nossos sentidos
Em cada noite de luar!
E de tanto viver,
E de querer viver tanto,
Os que me amam,
Ao saberem do meu desaparecimento
Poderão acreditar – que não parti
Estou somente em estado de arborescência
Para a construção de ninhos
E meditações de luares
Que cochicham minha vida
E poesia às margens das nascentes!